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Puberdade precoce: diagnóstico tardio pode comprometer a estatura

Por Dra. Angela Spinola*

A puberdade é um processo muito importante, que representa a transição entre a infância e a vida adulta e se caracteriza por modificações físicas, hormonais e psicológicas. Ao final desse período, o indivíduo estará apto biologicamente para a reprodução.

As principais modificações físicas estão principalmente relacionadas ao desenvolvimento dos caracteres sexuais chamados secundários. Fazendo uma colocação de forma simplificada, apesar da complexidade do processo, podemos observar, nas meninas, mamas, pilificação pubiana, axilar e aumento da cintura pélvica (quadril) entre outros, enquanto nos meninos ocorre o desenvolvimento testicular, genital (pênis e bolsa escrotal), pilificação pubiana, axilar, corporal, aumento da cintura escapular (ombros) e modificação da voz. Esses caracteres se desenvolvem, em ambos os sexos, em resposta à produção hormonal, hipotalâmica, hipofisária, adrenal e ovariana ou testicular, respectivamente, no sexo feminino e masculino. O primeiro sinal de puberdade, nas meninas, é o desenvolvimento das mamas, enquanto nos meninos o desenvolvimento dos testículos. Em média, o processo de puberdade dura dois anos, no sexo feminino, e três anos no sexo masculino.

Um evento muito importante durante a puberdade é o estirão de crescimento. Esse corresponde ao segundo período de crescimento rápido durante o processo de desenvolvimento, sendo que o primeiro ocorre no primeiro ano de vida. É fundamental para que o estirão puberal ocorra a produção adequada do hormônio de crescimento, dos hormônios sexuais (testosterona ou estradiol), das IGFs, que são fatores que estimulam o crescimento diretamente nas cartilagens. Nas meninas, o estirão inicia com o desenvolvimento das mamas e nos meninos depois que os testículos já estão com um volume de 12 cm. Fica bem evidente que é muito importante atenção em relação à estatura com a qual uma criança inicia a puberdade. No estirão as meninas crescem em média, 17 a 22 cm e os meninos entre 20 e 25 cm, mas esse número nem sempre reflete a realidade e o crescimento pode ser variável.

No final da puberdade, sob a ação dos hormônios sexuais, especialmente dos estrógenos, tanto em meninos, como meninas, ocorre o fechamento das cartilagens e a parada do crescimento. Importante comentar que não é a menstruação que interrompe o crescimento, mas quando as meninas menstruam já estão próximas da estatura final, embora também existam exceções, e esse crescimento também depende da idade óssea com que a menarca ocorre.

A presença de mamas antes dos 8 anos de idade nas meninas ou menstruação antes dos 9 anos e 6 meses pode ser considerado como precocidade sexual. Da mesma forma uma criança que começa a desenvolver as mamas depois dos 8 anos, leva em média 18 a 24 meses para menstruar. Necessário, portanto, mesmo nas crianças que iniciam a puberdade em idade adequada, observarmos o ritmo do desenvolvimento puberal (importante ter o olhar do pediatra). Algumas meninas podem ter apenas desenvolvimento precoce das mamas, isolado, ou dos pelos pubianos, axilares e suor com odor forte, sem outras repercussões. A maioria dos casos são situações benignas, que não necessitam de uma intervenção, mas que precisam ser vistas por um médico, para excluir algumas condições em que é necessário tratar.

Nos meninos o desenvolvimento testicular antes dos 9 anos e 6 meses é considerado precoce. É necessário também bastante atenção se houver aumento do pênis e da pilificação genital, independentemente do aumento dos testículos. Uma condição assim exige uma avaliação imediata. À semelhança das meninas também pode ocorrer a pilificação genital, axilar e sudorese sem outras repercussões, mas sempre é necessário que a criança seja examinada, para eventualmente excluir uma patologia.

Quando uma criança apresenta puberdade precoce sempre haverá, além do desenvolvimento dos sinais físicos, como já mencionamos, uma aceleração importante da velocidade de crescimento porque teremos o estirão puberal de forma antecipada. É necessário atenção com as crianças que, ainda pequenas, começam a crescer muito mais do que seus pares. Os hormônios responsáveis pelas transformações físicas e pelo estirão puberal também atuam acelerando a maturação física e a maturação óssea, ou seja, a idade óssea acelera, o que significa que o tempo de crescimento da criança ficou menor. Idade óssea na verdade reflete o tempo disponível para crescer. Consequentemente quanto mais tempo demorar para ser feito o diagnóstico do quadro de puberdade precoce, mais avançada estará a idade óssea e menor será a estatura final.

Mas é necessário entender que muitas crianças atualmente antecipam seu desenvolvimento puberal e apesar de avançarem a idade óssea crescem de forma a compensar esse avanço, não apresentam perda de estatura (em relação à família) e não precisam ser tratadas. Geralmente são mais altas do que as colegas e até mesmo em relação à estatura familiar, mas não serão tão altas quanto aparentam. A única consideração importante a ser feita em relação a um possível tratamento é se estão adequadas emocionalmente em relação aos seus pares (colegas da escola).

As crianças com idade superior a 9 anos com desenvolvimento puberal normal, precisam ser muito bem avaliadas em relação ao bloqueio da puberdade para melhorar a estatura, porque dependendo da idade óssea e da velocidade de crescimento podem perder estatura com o tratamento. Em relação a essa questão, existem muitas controvérsias, é necessário cautela para que intervenções não sejam feitas sem necessidade e sem resultados satisfatórios.

As crianças com puberdade precoce, respondem muito bem ao tratamento, estabilizam o desenvolvimento físico, voltam a crescer dentro do padrão normal (desaceleram o ritmo de crescimento) e geralmente quando diagnosticadas e tratadas adequadamente atingem uma estatura final dentro dos padrões familiares.

Como mensagem final, por ser a puberdade um processo complexo e muito importante na vida da criança é necessário que esse desenvolvimento seja acompanhado, mesmo quando é normal. É preciso atenção em relação aos sinais físicos da puberdade, para que uma avaliação seja feita de forma apropriada e no tempo correto, sem pânico ou ansiedade, para que a criança não entenda que seu desenvolvimento pode ser um problema, visto ser uma fase muito rica do nosso processo de crescimento como um todo, físico e emocional.

 

Fonte: Profª. Dra. Angela Spinola e Castro, endocrinologista da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo. Graduada em Medicina pela UNESP/Faculdade de Medicina de Botucatu, fez Residência em Clínica Médica, mestrado em Medicina, na área de Endocrinologia Clínica, pela Universidade Federal de São Paulo e doutorado em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo. Treinamento em Endocrinologia Pediátrica no Johns Hopkins Hospital. Atualmente é professora adjunta do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo e chefe do Setor de Endocrinologia Pediátrica da mesma instituição.