O Nordeste brasileiro apresenta dados próximos do excesso de consumo de iodo. É o que revela a Pesquisa Nacional para Avaliação do Impacto da Iodação do Sal, publicada em dezembro de 2016, que traça o panorama do estado nutricional de iodo no Brasil.
“São considerados cálculos medianos para afirmar se a população de determinada região tem deficiência ou excesso de iodo. O que apresentou a maior mediana foi a região Nordeste, com 298.80µg/l (microgramas por litro), que é o número que se aproxima do valor de referência de 300µg/l. Acima disso já é considerado excesso de consumo de iodo. A região que apresentou menor mediana foi o Sul, com 248µg/l”, explica o Dr. Helton Estrela Ramos, endocrinologista da SBEM.
O iodo é a matéria-prima que a tireoide utiliza pra produzir os hormônios T4 e T3. A falta ou carência de iodo pode levar a uma diminuição na síntese dos hormônios tireoideanos, levando ao hipotireoidismo, em variados graus (subclínico e clínico) além de implicar em maiores chances de bócio endêmico (o aumento do volume da tireoide).
“Sem falar no hipotireoidismo em gestantes, que pode levar a sérias complicações obstétricas, parto prematuro e até aborto. Para o feto, há consequências neurológicas muitas vezes irreversíveis, além de retardo no crescimento e no desenvolvimento do sistema nervoso central”, explica Dr. Helton.
O excesso de iodo também é prejudicial pra saúde: aumenta o riso de Tireoidite de Hashimoto, que é uma doença autoimune da tireoide, além de estar correlacionado com o aumento dos casos de câncer da tireoide.
Com dados coletados entre 2008 e 2014, a pesquisa percorreu 477 municípios, avaliando 18.978 crianças escolares de seis a 14 anos, provenientes de colégios públicos e particulares de todo Brasil. A mediana nacional foi de 276,75 µg/l de iodo na urina. Esse valor permite concluir que a situação do iodo no país em crianças avaliadas está no nível ‘mais que o adequado’.
Mas a pesquisa releva uma prevalência alta de deficiência de iodo na região Norte, especialmente no Amazonas e Maranhão, que chega a ter 23,8% da população exposta à deficiência de iodo. “Com esses dados podemos desenvolver planos e estratégias para combater deficiência de iodo nessas regiões. Como o Brasil tem dimensão continental, vários outros fatores podem interferir no consumo de iodo. Na minha opinião, as estratégias devem ser diferentes para cada região”, declara o médico.
Para os endocrinologistas, ainda há necessidade de mais estudos que tenham representatividade nacional e que possam fornecer dados relevantes sobre o estado nutricional de iodo em populações específicas como crianças, gestantes e idosos. A maioria dos estudos foi realizada antes de 2013 quando a Resolução RDC reduziu a iodação do sal de cozinha brasileiro. “É preciso avançar nos projetos de pesquisa para medição de iodo urinário na população para sempre monitorar o panorama do estado nutricional”, conclui o médico.
Onde achar iodo – A principal fonte de iodo é o sal de cozinha, encontrado nas refeições, cuja iodação é fiscalizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). E atenção: o sal deve ser adequadamente guardado e armazenado, pois o calor e a umidade elevados podem levar à perda de concentração de iodo.
Alimentos derivados do mar, como peixes e crustáceos, também são boas fontes além do sal. Populações que crescem longe de áreas litorâneas ou cujos alimentos são cultivados em solo pobre vão apresentar maior de deficiência de iodo.